Esse pequeno guia é uma ajuda para tirar a dormência de sementes de mulungu. Sim, as sementes que não germinam estão dormentes e é preciso quebrar esta dormência.
anatomia externa de uma semente. Imagem original de um feijão,
modificada para parecer semente de mulungu
O método que vi funcionar é o de escarificação da semente.
Neste caso especial a escarificação consiste em abrir uma pequena passagem na casca da semente no lado oposto ao hilo, com cuidado para não danificar a parte interna (endosperma) de cor mais ou menos bege da semente. Pode ser com uma lixa, mas eu usei um alicate de unha para cortar um pedacinho da casca. É mais ou menos como na imagem abaixo:
imagem ilustrativa
Depois da escarificação, tem que colocar a semente num recipiente com água (água suficiente para a semente flutuar) e deixar lá.
Dentro da água, em alguns minutos a casca mudará de forma, e depois a semente vai inchar ao longo de um dia ou mais. Não deixe a água escurecer, acrescente água limpa e boa.
Continuando na água, em um dia ou mais a casca da semente abrirá e a radícula vai começar a crescer.
radícula de uma semente de feijão
Quando a radícula estiver de um tamanho parecido com a ilustração, é hora de plantar em um recipiente espaçoso com boa terra. Tire da água com cuidado, faço um buraco raso (1 a 2 cm) e plante a semente com a radícula apontada para baixo e cubra tudo com uma fina camada de terra com cuidado. Mantenha a terra úmida sempre, mas NÃO encharcada.
A germinação lembra a de um feijão. Use 10 sementes ou mais, e tenha cuidado, as sementes são tóxicas e não devem ser ingeridas.
Observação: o que está relatado aqui foi a minha experiência e que até agora está dando certo: as sementes da mesma árvore que não germinavam nunca de jeito nenhum, agora finalmente germinaram desta forma.
Modo de plantar sementes de mulungu que não tem dormência: colocar a semente no sol plantada em substrato (terra) arenoso a profundidade de 1 a 2 centímetros.
A literatura considera o nome gaxite (ou caxite ou guaxite) como parte do folclore, do imaginário nordestino. Mas sabemos que se trata de um animal real, e que este nome é apenas um apelido regional e popular que não consta na biologia oficial e que por causa disso é difícil identificar qual o nome oficial deste animal.
Eu nunca vi um, por isto não sou capaz de identificar a espécie exata, porém existem algumas probabilidades considerando as informações populares: cor "cinza", se alimenta de anfíbios, tem hábitos noturnos, é valente, temido, solitário, difícil de encontrar.
Você já viu um gaxite? Comente e diga qual é.
Diz o ditado nordestino:
Depois do gaxite morto, todo caçador é valente.
Vamos às opções:
1. Cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas
cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas
A descrição bate (aparência e alimentação), porém oficialmente não consta que esta espécie existe no nordeste, mas existe na região norte do Brasil. É um animal raro e muito difícil de encontrar, existe pouco conhecimento sobre esta espécie, e por isto é possível que existam no nordeste. Veja este vídeo raro deste bicho aqui: https://www.nationalgeographicbrasil.com/video/tv/rarissimo-cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas-filmado-na-amazonia e domesticado aqui fazendo vocalização:
2. Cachorro-do-mato
Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous)
A descrição bate, habita o nordeste, é "cinza", se alimenta de anfíbios... Mas algumas pessoas que já viram o gaxite dizem que não é este. É conhecido como "raposa", apesar de não ser uma raposa.
3. Cachorro-vinagre
Cachorro-vinagre
A descrição não bate totalmente, não é cinza, é pequeno, anda em grupo, 100% carnívoro, habita quase todo o Brasil, exceto uma parte importante do nordeste.
4. (Bônus) Jaguarundi
Jaguarundi
Alguns relatos descrevem ações (rasgar com as garras o lombo de um cão grande) que só poderiam ser realizadas por algum tipo de felino. Fica aqui esta possibilidade, o jaguarundi (conhecido aqui como "raposa de gato") um felino da família do puma, que tem duas variações de cores (cinza e ruivo) e habita o nordeste.
5. (Bônus) Pelo nome similar (gaxite), pode ter alguma relação com o mão-pelada, o nosso "guaxinim brasileiro". E também com o Graxaim-do-campo (um canídeo bem pequeno), este último só ocorre na região sul do Brasil. Veja as duas fotos:
Estes dois fascinantes animais recebem nomes diferentes, dependendo da região.
Aqui na região, é dado o nome de "Raposa de gato"(por parecer um gato) ao animal de nome científico "Puma yagouaroundi", cujo nome oficial é "Gato-mourisco" ou "jaguarundi", além também de ser conhecido por diversos outros nomes e até ser confundido com outros animais. Ele é parente do Puma(onça-parda) e habita todo o Brasil. Possui duas variedades básicas de cor de pelagem: o cinza e o vermelho.
"Raposa de gato" - Nome oficial 'Gato-mourisco'(Puma yagouaroundi).
Animal variedade de cor vermelho, ruivo
Gato-mourisco variedade cinza. "Raposa de gato".
Já a "Raposa de cachorro"(por parecer um cachorro) corresponde ao animal de nome científico "Cerdocyon thous", cujo o nome oficial é "Cachorro-do-mato". E possui ampla distribuição pelo Brasil.
"Raposa de cachorro" - Nome oficial 'Cachorro-do-mato'(Cerdocyon thous).
Animal nordeste
É tradição do nordeste a posse de cachorros de utilidade no interior dos Estados. Estes cães de origem antiga, foram e ainda são utilizados em diversas funções, como a caça e a lida com os animais de criação.
Os cachorros bons na caça recebiam e ainda recebem classificações de acordo com a sua especialidade. Existe cachorro bom de peba (bom de caçar tatu-peba); bom de preá; bom de lambu (para o lambu os melhores são os cães perdigueiros), bom de raposa, bom de tembú, e assim por diante (e até lagarto teiú e gaxite).
Cães de caça apreendidos pela polícia ambiental em Caicó, Rio Grande do Norte.
Percebe-se que os cães tem características de podengos(cães de caçar lebre)
Fonte da imagem: Blog da polícia ambiental Caicó/RN.
Boca-preta sertanejo?
Há uma crença quanto aos cães de caça. Dizem que os melhores são os cães vermelhos (castanho/marrom) de focinho preto. E dizem também que os cachorros que tem a ponta da cauda na cor branca, não prestam para a função e são mentirosos. Apesar de que muitas raças de sabujo tem a ponta da cauda branca.
Na maioria das caças o cão rastreia e captura ou acua a presa em uma árvore ou toca enquanto o dono atira, geralmente durante a noite, mas no caso dos cachorros perdigueiros, eles farejam e apontam (mostram) a localização, a ave se assusta, o caçador acerta um tiro e o cachorro busca a ave morta e lhe entrega.
Esses cachorros ainda vivem espalhados pelos sítios de parte do interior do nordeste. Ainda se sustentam comendo os restos de alimentos dos donos(até caldo de feijão com farinha) e dos animais de criação, ou até caçando pequenos animais por conta própria. Antigamente os filhotes dos cachorros bons eram trocados por galinhas de igual qualidade. A caça, apesar de ilegal, continua ocorrendo hoje, e os cães continuam sendo usados. Eles são incentivados e ensinados a caçar desde filhote, sendo levados com os cachorros mais velhos. (Veja o vídeo acima, cachorros bons de peba)
Hoje, dizem que um filhote de cachorro bom é vendido por cerca de 1500 a 2000 reais. Há grupos de amigos especializados na caça e na criação destes cães, que formam círculos fechados de caçadores por aí, vendendo e trocando cães e vendendo carne de animais caçados. A razão da caça é a apreciação que os caçadores tem pelo sabor da carne de certos animais. Alguns caçadores até capturam por exemplo tatu-peba vivos para criar e/ou vender, para consumo nos dois casos.
Além dos cães de caça, ainda existem os cães que ajudam na lida com o gado, pegando a vaca arisca pelas ventas quando necessário, na companhia do vaqueiro. E ainda os que protegem os animais de criação contra ataque de raposas ou timbus. E existem também os cachorros que servem para todas estas funções.
Quero mencionar agora o tal CACHORRO CANINDÉ. Dizem que assim são chamados os cachorros de sítio(sem raça definida) de pelagem preta com marcas castanhas, especialmente com um ponto castanho acima de cada olho, e sem manchas brancas em nenhuma parte do corpo. Talvez o cachorro canindé recebeu este nome por causa da tribo dos Canindés no Ceará. Uma tribo que possui muito conhecimento sobre caça.
Cachorro Boca-preta sertanejo
Apesar de todos estes cães serem considerados popularmente "vira-latas", todos são descendentes antigos de raças de caça utilizadas pelos indígenas e dos cães de tipo podengo e lébrel trazidos pelos europeus em vários períodos da história, inclusive durante a União Ibérica(união entre Portugal e Espanha), e a Invasão Holandesa ao Nordeste; e trazidos também de Colônias de Ultramar, provavelmente. Um maneira de comprovar isso é mencionando a iniciativa da EMBRAPA, em resgatar cães deste tipo na formação de uma raça chamada Boca-preta sertanejo.
Cães de caça apreendidos pela polícia ambiental em Caicó, Rio Grande do Norte. Percebe-se que os cães tem características de podengos(cães de caçar lebre). Fonte da imagem: Blog da polícia ambiental Caicó/RN.
Falando de cachorro, lembrei que também ouvi dizer que parece que as pessoas chamavam de "cigano", os cachorros que andavam muito e passavam vários dias longe de casa sozinhos.